Básico de A a Z, raízes
da dança Oriental
Muito
se diz sobre a chamada “ Dança do ventre”. Nos países árabes seu nome típico é
“ Raks el Sharki” e este foi o primeiro nome que aprendi com minha primeira
professora Shahrazad ( Madeleine Skandarian).Ela dizia que a tradução para
nossa língua era “ Dança do Leste” o que hoje eu chamo de Dança Oriental, sem
nenhuma conexão com o JapãoA dança é considerada como uma das artes mais
antigas, porque foi uma maneira do ser humano perceber seu próprio corpo de
maneira instintiva. Da mesma maneira as sequencias rítmicas, criaram seus
próprios caminhos antes mesmo de reconhecer o mundo exterior e anterior a
criação de uma comunicação falada ou linguística.
Os povos
antigos e antigas civilizações utilizavam a dança em todas as ocasiões
importantes em suas vidas, nas oferendas de sacrifício, nos rituais mágicos e
culturais, nos casamentos e festas relacionadas aos nascimentos de bebês.
Cerimônias de circuncisão , funerais, e festas em casa, além da guerra, das
danças para espantar doenças, ou para honrar as sombras e a luz. A dança em
muitas culturas antigas, era respeitada pelas religiões , sustentada pelas
tradições e com estreitos laços com a música.
Os
instrumentos de percussão sempre estiveram presentes, como forma de manter a
concentração, reforçar os movimentos, e estes instrumentos sempre foram
indispensáveis desde as origens da dança até a atualidade.O canto também sempre
esteve ligado a ela, juntamente com a música, e seus dois elementos essenciais,
o ritmo e a melodia.
No vale do
Nilo a dança era considerada uma
expressão de alegria, que sempre acompanhava as festas. Assim quando era época
de colheita, o camponês dançava em ação de graças. Durante a primavera,
existiam danças especiais que eram rituais. Levava-se ao campo uma jovem virgem
, na alvorada, e sua dança era pensada como uma oferenda para que uma boa
colheita pudesse acontecer naquele campo. Entre os antigos egípcios o desnudar
tinha um propósito especial, pois as bailarinas dançavam sem roupas, mas
cobertas por uma capa pequena, durante a realização de cerimônias religiosas.
Até hoje em
algumas partes do mundo tribos indígenas, dançam para atrair as chuvas do verão
ou da primavera, ou até mesmo para se livrar de maus espíritos. Nas danças com
espadas, durante um casamento ou funeral, geralmente se fazem demonstrações de
habilidades com a arma, com a finalidade de proteger os noivos ou o morto das
más intenções de seus inimigos.
No Sudão por
exemplo , existem danças que se relacionam com as noites de lua cheia e a
colheita, De tudo isso podemos deduzir que as necessidades humanas e as formas
de vida, estão unidas a dança , que constitui, um importante suporte para as
crenças populares. No Antigo Egito sabe-se que a dança era um elemento importante
dos serviços religiosos.
“ A dança, a
música e o incenso, são nossas obrigações religiosas para com os Deuses, e o
que acontecesse aos humanos estaria ligado a aceitação ou rejeição da adoração
oferecida a eles!”
Para falarmos
da dança ao final temos que decidir por um período de sua história, pois seria
impossível abordar tudo de uma só vez.
Hoje
falaremos apenas da dança conhecida pelo nome “ Dança do ventre “ como nosso tema principal.
Este nome
define uma dança por excelência individual e executada por mulheres. O nome
ventre, por ser o ventre o cento ou eixo principal do corpo feminino, não
apenas físico mas também espiritual , com tradições que vem do inicio de nossas
civilizações.
Nesta dança
sobrevivem traços de muitas culturas distintas e não apenas a cultura árabe.
Como por
exemplo : faraônica, fenícia, nubia, turca e berber.
Shokri Mohamed chamou a seu livro “La Danza mágica
del Vientre” por acreditar que esta dança nos leva ao profundo sentimento de
comunicação interior com vc mesma, através da música e dos movimentos,
resultado deste encontro não apenas com os outros mas principalmente consigo
mesma, que deve ter uma bailarina. Nesta dança precisamos cultuar nossa força
pessoal, e trazer a mesma de dentro para fora.
A dança se
desenvolveu em locais distintos como o palácio e as ruas. Seria ao final um
meio do caminho entre o Folclore e a criação pessoal, uma arte que nasce na
vida e floresce em contato com outras artes, se transformando e sobrevivendo
até os dias de hoje
Nesta dança há
uma estrutura básica definida que permanece constante e ao mesmo tempo existe
nela um componente essencial de improvisação que permite a bailarina
exteriorizar suas qualidades expressivas e criar sua forma única de
expressar-se. O que na verdade só acontece com aquelas que chamamos de “
grandes bailarinas”
Linha do tempo – Alguns fatos
temporais que mostram o caminho desta dança até a popularização
·
Esculturas
e pinturas do Egito faraônico
·
Sec
I d.C. o escritor hispano romano Marcial , descreve com curiosidade a dança das
bailarinas fenícias chegadas ao podero de Gades que podiam mover os músculos do
estômago, ainda que permanecessem totalmente paradas com o resto de seu corpo
·
As
cortes de sultões e califas medievais de distintas regiões até os confins do Islam,
desde Irã, e Turquia até o Magreb e a região de Andaluz. Estas cortes acabavam
mesclando elementos culturais vários e fusionando suas raízes folclóricas suas
cadências e suas estruturas.
·
Final
do califado 1258 - a radicalização do
Islam, as manifestações artísticas desta natureza se quedaram relegadas ou
iniciaram um progressivo declínio.
·
Egito
– final do sec XVI – a dança começa a ser apresentada em lugares de reputação
duvidosa
·
Sec
XVIII e XIX os únicos que bailavam em público eram homens disfarçados de
mulheres e as cortesãs
·
Dominação
Otomana – assemelha o estilo e a moda de Istambul que potencializava o
movimento dos quadris.
·
1888
na França a dança se popularizou graças a
uma argelina se apresentou numa grande feira de negócios em Chicago
1988. Nos EUA que tinha neste momento
uma chegada massiva de emigrantes árabes e turcos, favoreceu o florescimento
desta dança em um novo âmbito cultural e o nascimento de um certo esquema de
dança de duração média que integra os
ritmos e momentos básicos dentro da música árabe: baladi, taksim e chiftetelli(
maqsoum e masmoudi) Este tipo de dança foi chamado Cabaret pois mesclava passos
da mais variada raiz folclórica e se
servia de acompanhamentos musicais especialmente criados para ela, baseando-se
em canções populares árabes, seguiam um esquema de dança em 3 andamentos :
rápido ( introdução com passos básicos) lento ( se trabalham ritmos prolongados
e corresponde a improvisação com flauta ou alaúde) e rápido ( onde se voltam os
passos básicos mas com maior dinamismo) encerrando o ciclo
Fontes de
Pesquisa :
( La danza mágica del Vientre - Shokri Mohamed
Die Welt des Raks Schaabi – Khaled
Seif
Grand Mothers secrets – Rosina Fawzia
Al Rawi
Shorky Mohamed texts.
Além destes
livros como fonte de apoio vale mancionar minhas anotações durante todos os
anos de estudo, como base de pesquisa!