sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Novos rumos e a vida me dá o que ? vento em popa!

Penso que muitas vezes o  medo da mudança nos empurra para ficar  no mesmo lugar, mesmo que este não seja nosso desejo visceral.
Hoje vivo uma fase nova, e cheia de desafios, especialmente para a faixa etária em que me encontro, perto de 52 anos quando muitas de nós já assentou e busca uma tranquilidade maior...
E eu???
Estou no início de uma nova jornada , bem agora, depois de meio século de vida...
Vivo entre dois continentes, e mantenho meu centro cultural vivo aqui no Brasil

Estava em dúvida sobre minha permanência no mercado de dança, e pedi ao Universo que me enviasse motivos ou indicações sobre qual caminho seguir e eis que: em menos de dois meses, convites chegaram de lugares inusitados, me mostrando que ainda tenho algo a fazer.

Lugares que não supunha serem possíveis para meus cursos, Belfast - Irlanda do Norte, e França com um curso de formação.
Quando aquela menina baixinha, de óculos e bota ortopedica, ia imaginar viajar tanto dançando e ensinando?

Até hoje me surpreendo e me sinto abençoada, por poder viver este sonho acordada.
Tantas regras em minha vida, foram quebradas... para o bem!!

Me casei cedo, tive alguns filhos 4 para ser exata que foram os bebês que nasceram e mais dois que perdi durante a gestação.  Me  divorciei aos 41 anos, imaginei que ok, já vivi o suficiente, agora é trabalhar e cuidar dos pequenos... ai ai ai, conheci o grande amor da minha vida, já na fase madura, o que nunca imaginei, e tive minha mais nova, com 42 anos.

Aí era hora de amainar né gente? Bom dei um jeitinho fechei a fábrica biológica senão era capaz de ter bebês um atrás do outro, pois contando com os que não foram até o final da gestação , foram 8 que viveram dentro da minha caverninha especial entre os que terminaram a  jornada no tempo certo e os que se foram mais cedo.

Hoje me sinto tão bem, apesar de claro, lamentar as vezes a passagem do tempo. Amo intensamente meu marido, que é meu melhor amigo, e um amante incrível. Tive filhos e filhas, que hoje me enchem de orgulho, e ainda danço!! Fala sério, eu ainda danço...as vezes não consigo acreditar, em tantos presentes.

Então o texto de hoje é para agradecer.
Todas as pessoas, homens e mulheres, que me trouxeram até aqui.
Meus bons momentos, meus não tão bons momentos...
Tudo me ensinou e ainda vai me ensinar mais....

Seguindo o vento, eu vivo entre America do Sul e Europa, voando de lá para cá, e vendo meus amores, nos dois continentes, crescerem como pessoas e seres humanos.
Ainda me pedem para dançar, e eu tenho a chance de ter olhos atentos sobre mim

Hoje só uma palavra me define, só hoje ....GRATIDÃO!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Uma brasileira na Alemanha - primeiras impressões

Pois é, já dizia minha mãezinha, não fala besteira para cima pois tudo volta para o lugar de onde saiu...
E não é que meu preconceito antigo com esta terra se desfez aos poucos, conhecendo um pouco mais sobre uma cultura sobre a qual só tinha uma superficial idéia... antes de conhecer meu amor!

Hoje vivo entre Brasil e Alemanha, e posso mensurar o que temos de melhor em nosso país e o que este país oferece em troca...
Ok vamos aos pontos

Música_ Brasileira sem dúvida alguma
Aqui não encontrei ainda nada popular que me agrade, e acho que eles não tem, o que nós conhecemos em nossa terra como MPB!
O que está em voga por aqui é um estilo que se chama " Schlager" uma melodia simples que nunca muda, as palavras que se repetem, e claro entram na sua cabeça sem esforço...eu não dou conta!

O que aqui é maravilhoso, pelo menos na cidade pequena que é meu porto no momento. Ando 12 passos mais ou menos e entro numa trilha de floresta, o que em minha terra natal é quase impossível mesmo morando no interior.
Acreditem isso está perto da casa onde moro, nem eu consigo acreditar as vezes,


A cidade por ser pequena, é segura, e posso andar a noite sem nenhuma preocupação, Apesar de saber disso não consigo relaxar, acho que são muitos anos me preocupando com esquinas e sinais fechados, tarde de noite, que me privam de relaxar como poderia andando a pé por aqui de madrugada.

De qualquer maneira, claro existem os percalços do caminho
Sensibilidade igual a nossa, só aí no nosso canto mesmo...aqui tudo é muito mais formal, e o único lugar onde relaxo de verdade é quando dou aulas, pois minha brasilidade vem a tona, e todas as brincadeiras de sala de aula brasileira aparecem sem travas , mesmo aqui ...

Bom por enquanto ficam estas impressões para convidar vc a viajar um pouco comigo
Vou tentar reativar o blog e ir contando devagar o que anda acontecendo
Tive meu primeiro workhsop em outro país , que foi Praga, a capital da Chescoslováquia. Gente de Deus nunca vi tanta mulher linda em minha vida...

Elas tem a intensidade das brasileiras, e são muito sérias estudando
A sensibilidade está lá , de forma pura e intensa, de certa forma, me sinto me conectando com as raízes de meu pai que nasceu mais para cá na Bulgária.

Em breve fotos deste final de semana que foi muito especial e inspirador para mim, pois minha organizadora, é uma bailarina que eu admiro profundamente Katerina Shereen!

Tarab - buscando significados


Tarab
Estudando a música de forma mais profunda!
Tarab em árabe, é um estado de êxtase e entrega  que alguém pode alcançar enquanto, ouve com o corpo e a alma , a música
Na cultura árabe, a fusão entre música e transformação emocional, é personificada pelo conceito de TARAB, que pode não ter uma palavra equivalente exata em nenhuma língua ocidental.
Temos que pensar sobre o conceito própriamente para compreender a palavra. Uma vez mais nesta busca temos que nos basear na opinião de acadêmicos nesta área e o que eles tem a dizer sobre a diferença entre Musica Ocidental Européia e Música árabe.
Guilherme Andre Villoteau, fazia parte de uma time de musicologistas, dentro da missão científica de Napoleão no Egito entre 1798-1799. Ele observou que a música Árabe, evocava  uma forma emocional muito poderosa, nos seus ouvintes.
Cerca de 35 anos depois um escritor árabe cujo nome era Ahmad Faris Al – Shidyaq, numa viagem a Europa, tentou explicar a diferença entre Musica Oriental e Música Ocidental. Nesta comparação ele usou a si mesmo como exemplo e notou que a música Ocidental evoca mais imagens e conceitos e que a Música Árabe, tendia a provocar uma emoção crua em seu público, livre dos conceitos e imagens. De fato a música árabe toca externa e profundamente o público de uma maneira distinta da música Ocidental.
Podemos até mesmo encontrar na música do Ocidente algo parecido com a forma de Tarab da música Oriental mas isso é muito mais sutil e cerebral do que na Musica árabe.
Na música Ocidental os aspectos técnicos em termos de Musicalidade de uma peça podem explicar porque aquela peça em especial nos provoca emoções específicas
Copland Clarinet Concerto Benny Goodman Part 1 – procure por este título buscando no Youtube.
Se escutarmos a peça mencionada acima por exemplo, ela foi escrita primariamente para um clarinetista, chamado Benny Goodman, ao ouvir deveríamos prestar especial atenção ao absoluto contraste entre a sessão lenta e a rápida desta peça 
 Com suas respectivas diferenças em textura, harmonia, modo, tempo e intensidade. Todos estes aspectos, são exemplos perfeitos do que faz o Concerto Copeland para clarineta, soar do jeito que ele soa e por sua vez estimulando no ouvinte o Tarab, que decorre disso.
Apesar de tudo é uma forma totalmente diferente de Tarab que podemos experimentar com Música árabe.
Qual o conceito de Tarab afinal ?
O conceito em música árabe é mover alguém emocionalmente através da musica, se o ouvinte ( Samee´ em Arabe) é levado a se sentir profundamente tocado  pelo prazer, tristeza ou simplesmente elevado de forma clara, pela música que esta sendo apresentada.
Não apenas é o Tarab um dos principais componetes que faz o árabe ser o que é, mas vc pode encontrar também diferentes formas de tarab, em outros tipos de musica no Mundo árabe. Um dos lugares óbvios onde vai encontrar tarab é dentro da religião Sufi.
 Há duas diferenças notáveis entre a música árabe e a musica Sufi.
 A música Sufi é religiosa e mais reservada enquanto a secular Musica Arabe é geralmente não religiosa e pode ser mais emocional e técnicamente mais simples por vezes.
Dhirkr o que em árabe significa literalmente memórias ou invocações, é um nome usado para descrever a Liturgia Mevlevi Sufi, e neste contexto a palavra Dhirkr, toma o sentido de relembrar Deus.  Esta cerimônia é onde você poderá ver um grande exemplo de Tarab religioso,  onde aqueles que estão em parte dentro da cerimônia, os ouvintes, terminam, girando em círculos, o que recebe então o nome de dervishes rodopiantes.
A instrumentação desta música é geralmente  sustentada pelo tambor ou tabla específico e Nay ( Flauta feita de junco ) e o tarab experimentado neste serviço de adoração está fortemente atado a sensação de estar mais perto de Deus.
Enquanto o tarab religioso tem sentimentos diferentes  e objetivos por trás dele,  o principal – voltando a nossa idéia de conceito – é que permanece sempre o mesmo. Todas as formas musicais que tem habilidade de elevar o ouvinte de seu corrente estado e levá-lo a algum outro ponto, ou a uma jornada emocional, são aquelas capazes de provocar Tarab.
Você pode facilmente encontrar todas as formas e graus de tarab em todos os gêneros e formas da musica árabe. Cada uma deveria ter seu próprio estilo, som, e sensações ligadas a ela, mas num artigo é impossível nomear ou classificar tudo isso.
De qualquer maneira de todos os estilos a Musica Classica Arabe ou também chamada Musica Tarab, tanto as peças antigas quanto as atuais, são aquelas em que você poderá experimentar Tarab em sua forma mais refinada.
Para todos aqueles que querem compreender a musica árabe de uma forma mais profunda, é necessário compreender o sentido desta palavra Tarab.
No final, não é exatamente para mover o público emocionalmente que se faz Música?
 The Michigan Arabic Orchestra - Ya Msafer Wahdak 1/2 يا مسافر وحدك
http://www.youtube.com/watch?v=Udnn_kg13Fw&feature=related
Exemplo de música árabe clássica ou Tarab Music.
O cantor produz Tarab, aquele que ouve o recebe ou manifesta.
Se uma bailarina dança uma peça que provoca  Tarab o que ela está a dançar é clássico mas não Tarab.
Tarab não é um estilo ou forma de dançar, mas sim um estado da alma, e para isso ñ existem e nem deveriam existir regras ou manual de primeiros passos!
Outra definição seria , o êxtase através da poesia musical.
De certa maneira Tarab é aquele estado em que nossa alma se encontra quando  é tocada ao ouvir música.
A melhor maneira de identificar o Tarab é testando a si própria.
Existem até mesmo palavras diferentes que definem o cantor ou cantora, capaz de provocar tarab.
No final a definição se acopla as emoções e não se contém em uma caixa quadrada e selada.
Eu costumo dizer que a grande diferença é se a música te toca profundamente ou se ela te impressiona, e o mesmo vale para a bailarina.
Eu posso me sentir tremendamente impressionada por alguém, mas absolutamente não tocada emocionalmente.
Moghani ou Moghaneia – Cantor ou cantora.
Motreb ou Motreba – Cantor ou cantora, capaz de provocar este estado alterado do ser.

Geralmente estas peças não são aceleradas apesar de possuírem modulação em sua estrutura como um todo. Há um convite a reflexão e a abertura das sensações emocionais!
Exemplos do passado
Para nutrir seus ouvidos e sua alma com Tarab tradicional vale explorar as obras de:


Oum Khoulthoum – Enta Omri , El Atlal, Ansak

    
Abdel Halim Hafez


 
 Nagat cantando Ana Bastanak

Exemplos da Atualidade
 
Amr Diab –  é considerado tanto moghani quanto Motareb.



Shereen –
Ambos os artistas também são considerados moghani e moghaneia, mas possuem os dois títulos pois são multi facetados.
Para os ouvintes atuais esta é uma cantora chamada pelos dois nomes pois provoca Tarab em seus ouvintes, dependendo da canção!
http://www.youtube.com/watch?v=Dz8SYDXcLEY&feature=related

Impressões sobre a Sibéria

Minha imaginação não tinha elementos para fixar uma idéia do que seria esta parte do Mundo. Ligava o nome do lugar, a uma área inóspita, e perfeita para prisões que não permitissem a fuga, simplesmente porque fora da prisão os fugitivos morreriam rapidamente.
Era isso o que eu pensava. Frio, deserto e hostil.
Claro que a realidade é sempre diferente da nossa fantasia, e dei de cara com uma cidade grande, e muito ativa, apesar de não me parecer nem um pouco atrativa no primeiro contato.

Os prédios estão por toda parte, pelo menos por onde eu estive, e é difícil estabelecer diferença entre eles.
Herança do comunismo, e da necessidade de apagar qualquer resquício que fosse da diferença social entre as pessoas, talvez, o caso é que pra mim tudo parecia muito linear e cinza...muito cinza.

Neve por toda parte, pois por lá o inverno só termina mesmo por volta do final de Abril, e quando cheguei a temperatura era de – 10, o que para as siberianas, é quentinho!!!

Meus lábios racharam imediatamente, sem se importar com o batom que eu insistia em passar direto. Não tive nenhuma vontade de sair e explorar a cidade, pois o frio era tanto que depois de 2 minutos na rua, o que eu queria era voltar para dentro do flat e ficar quietinha...

O flat, tinha uma mistura de cores, que deixaria maluca até mesmo a mulher mais inusitada em combinações. A cozinha era laranja, choque, as cortinas do quarto e o teto lilás, e o banheiro azul e branco....fala sério!!
Eu podia fazer meu nescafé a qualquer hora, tinha yogurte e algumas frutas, então pelo menos de fome eu não morria...

No primeiro dia de jet lag, não fui capaz de fazer nada
No segundo dia, já tinha trabalho , 4 horas de julgamento em competição e foi uma experiência muito interessante. Diferente das bancas do Brasil, onde não se discute nada posterior as notas, e a decisão final nunca é da banca, lá tudo é diferente.

Depois das notas serem somadas, e termos um resultado numérico final, as pessoas que compõe a banca, juntas discutem o 1º 2º e 3º Lugar, e não necessariamente as notas é que fazem a diferença. Claro que um 1º lugar indiscutível não oferece margem a dúvidas, mas até mesmo com isso tivemos algumas conversas, pois em alguns casos, haviam empates.

É tudo tão transparente e correto, que passa a valer a pena participar de competições, pois pelo menos, vc tem acesso a tudo, e sabe exatamente o que determinou a decisão da banca, na final.
Fui procurada por algumas bailarinas, em virtude de meus apontamentos, e foi maravilhoso ter a chance de dizer o porque desta ou daquela nota, e depois encontra-las na aula, dispostas e experimentar algumas das coisas que eu havia proposto.

Claro que tive uma tradutora comigo tempo integral
Nastya ( Anastacia ) foi meu anjo o tempo inteiro, para comer, para julgar, para dar minha opinião , ela foi minha voz enquanto estive neste lugar.

Numa das noites , não consegui dormir de jeito nenhum e fui ligada direto por quase dois dias. Naquela noite descobri diversas bailarinas russas que ainda não tinha visto e acabei fazendo uma lista de performances que me impressionaram muitíssimo. Logo a lista vai estar na corrente do bem!

Minha organizadora foi incrível e sua família, é como uma ancora bem vinda em sua vida. O pai e a mãe, sempre presentes, trabalhando como loucos para o festival e para a dança.

Na noite do show tivemos um jantar somente as bailarinas convidadas, e eles, e foram horas inesquecíveis. Um encontro intimista, com boa comida, e muitas estórias compartilhadas. Para Luana, o momento prévio da despedida, é sempre um ritual, e cada um presente, tem que dar seu testemunho ou impressões sobre os últimos dias...bom para encurtar o assunto todos se emocionaram em sua vez de falar, e não fui a única com lágrimas nos olhos ...

É muito bom poder compartilhar a dança desta maneira, com pessoas que são tão apaixonadas por isso, que excedem os problemas que costumam nos assombrar...e transcendem além disso

Obrigada Luana Ptukha, Tatiana, Anna Borisova, Anastacia e Vilenna Shamarkan. Aquela noite vai ficar para sempre comigo!