terça-feira, 30 de julho de 2013

O desafio da espera, para uma eterna impaciente!


Dizem que a paciência é uma virtude maravilhosa. Nesta vida pelo menos, eu vim desabilitada neste acessório.
Parece que minha paciência só serve mesmo para os sentimentos, e para os desapontamentos. Ambos tem que chegar a um nível absolutamente inaceitável para que eu tome qualquer ação positiva a meu próprio favor.

Tenho refletido com relação a isso , observando como se não fosse meu, o tempo de vida que já trilhei , nestes 46 anos, 8 meses, e 30 dias...

Confesso que me recordo demais da minha mãe e de suas pragas. Sim, porque praga de mãe sempre pega.

Ela me disse inúmeras vezes, que eu um dia saberia o que significava ser mãe, e também compreenderia as dificuldades da vida adulta, e o papel que temos na vida de nossos filhos. Assim como compreenderia o grau de paciência a que uma mãe é submetida.

Agora, me recuperando de uma cirurgia na coluna, que eu jurei que não ia fazer, sou obrigada mesmo sem querer, a ficar quietinha, pelo menos fisicamente. E a cabeça começa a agir , numa velocidade que ao corpo não é permitida!

Relembro muitas coisas, repenso outras, e ainda assim a dita paciência não passa para me fazer uma visita.

Minha maior dificuldade em aceitar a cirurgia, que provava ser necessária,  era a condição paralela de estacionar tudo, por pelo menos 8 semanas.

Nunca, desde que comecei a trabalhar, aos 17 anos, eu parei por 8 semanas. Como saberia lidar com isso?  E o pior , como poderia gerenciar  financeiramente este período de resguardo que seria obrigada a cumprir?

As coisas foram clareando quando meu médico ( santo homem ) revelou que tinha um prognóstico muito melhor para mim. Ele me disse:
_ Veja bem Luciana, meus pacientes, são em geral idosos, sedentários e trocaram seus músculos por gordura. No seu caso tudo muda de figura, músculos fortes, uma vida mais do que esportiva e uma vontade imensa de voltar a ativa. Para um paciente comum eu diria dois meses e meio fora da vida normal ( neste momento eu juro que quis fugir) para vc, creio que em 3 semanas, vida suave, dando aulas delicadamente, e depois de 5 semanas quem sabe podemos mudar de idéia e acionar seu turbo?
Bom, não era perfeito, mas era bem melhor do que a base média de retorno as atividades.

Resultado ? Eu fiz a cirurgia.

Hoje em casa , lido com a paciência.
Paciência em esperar que este corpo cicatrize, paciência para lidar com a preguiça de pessoas importantes na minha vida. Eu, querendo fazer tudo e mais um pouco, mas sendo limitada por minha condição física, outros em pleno vigor físico querendo fazer nada!

Vai aí Luciana, engole o que não quer engolir de jeito nenhum....

Para os amigos que me escreveram, todos sem exceção, meninas e meninos , aqui vai meu alô:

Desde o primeiro dia, eu caminhei sozinha, e tenho feito os exercícios que a fisioterapeuta do hospital me deu ( cá entre nós , eles são fichinha, mas eu faço assim mesmo)

Agacho , levanto, ando, deito e sento. Algumas destas ações eu faço além da conta, e acho que teria que estar dopada para fazer menos, mas estou dando meu melhor porque quero voltar o mais rápido possível. Dançar ainda não dancei , só mesmo na fantasia!

Como sempre aproveitei para estudar um pouco e descobrir o que significam algumas expressões que andei ouvindo ultimamente:  bainha de mielina, condução nervosa, impulso saltitante, etc.
Nunca é demais aprender não é?

Neste momento de paciência forçada, como se estivesse engolindo um grande sapo sem nadinha de agua, eu vejo com clareza que não consegui fazer algumas coisas importantes para meus filhos. Nem tudo se designa a todos eles, mas as tarefas ainda me parecem inacabadas.

Fico aqui pensando em quantas de nós mães, conseguiram de fato o sucesso na listinha que escrevi para mim mesma:

  •   Ensinar seus filhos a serem absolutamente responsáveis por seus atos, sem desculpas esfarrapadas ou pedidos atrasados de perdão.
  •  Caminhar independentes pela vida, criando suas trajetórias desde a mais tenra idade( essa é bem difícil )
  •   Voar sem que precisemos para isso tirar seu chão, sem ameaças, sem brigas ou infringindo dores emocionais desnecessárias.
  • Saberem dizer não , quando o não é necessário e terem a coragem de dizer sim, quando ele for mais do que bem vindo.
  •   Atuar de peito aberto, recebendo deste mundo tudo o que ele traz, tendo um olho aberto e outro fechado. Fantasia e realidade são amigos e não inimigos...
  •   Saber discernir que o Amigo de verdade é aquele que te conhece, de fato, e ainda assim te ama. Os outros são conhecidos, colegas mas não merecem a palavra amigo.
  •  Não precisar que alguém lhe obrigue a pensar em sua própria vida, pois vc mesmo filho, já sabe que ela é sua e não de seus pais, portanto a tarefa de lutar por ela é única e também exclusiva de apenas uma pessoa, VOCÊ.
  •   Dizer a sua mãe a verdade, pois ela é sempre melhor do que qualquer mentira bem contada, e também aguentar ouvir a verdade , se for isso o que ela tem a lhe dizer.
Enfim , acho que a lista seria grande e minha sensação de responsabilidade maior ainda. Muitos de nós queremos ser para nossos filhos, um exemplo talvez, algo a seguir, o modelo mais bem acabado do que foram nossos pais.

Não há receitas, e cada filho é um baú de surpresas, mas creio que nós, mães podemos fazer muito mais, se separarmos a proteção da criação.

Confortar e desafiar. Ensinar e aprender, mas acima de tudo acreditar, que eles pertencem ao mundo e não a nós. Prepara-los para que sejam adultos responsáveis, seria o melhor presente que poderíamos lhes dar.

Fica aqui a reflexão de uma mãe bailarina, que ao viajar é cigana, mas que adora ser dona de casa, e no momento não pode fazer nem uma coisa e nem outra.
A todos que tiveram a paciência e o tempo para ler até aqui, uma boa noite, e até um novo encontro – seja lá onde for!

Lulu