Lendo os artigos escritos sobre dança e acerca de nosso universo Oriental, que é pequeno e ao
mesmo tempo tão gigante, me surpreendo suspirando e fazendo caretas para as
palavras que encontro.
Ler as palavras de outras pessoas que conhecemos de forma mais
ampla, impressas no papel, provoca as mais variadas reflexões.
Então depois de uma aventura infernal para chegar a Zona da
Mata, e indo em direção a Juiz de Fora, agora por terra, decidi parar e matar o
tempo escrevendo um pouco.
Leio textos de pessoas que fizeram ou ainda fazem parte da
minha vida. De diversas maneiras, eu interagi, e convivi com muitos dos autores
que agora vislumbro em palavras discursivas e textos propostos.
Algumas opiniões eu ouvi ao vivo antes de verem escritas, e
posso até mesmo dizer que nada se compara ao contato pessoal.
Mesmo toda a tecnologia do mundo não vai substituir o olho
no olho.
Para quem não a conhece pessoalmente, tratem de conhece-la ,
um anjo de sabedoria e a generosidade em pessoa , Marcia Dib, hoje uma das contribuidoras
da Revista Shimmie, que tenho o prazer de ter também como parceira de trabalho
além de contar com sua amizade.
Carol Louro , em sua busca sensível , como bailarina e
professora apaixonada
Munira Mgaharib, e sua doçura ao dançar, e Jade com suas
observações sempre ousadas e instigantes.
Claro que existe um artigo em especial que chamou minha
atenção e ele fala de faces da bailarina, e da conecção entre o personagem que
criamos ao dançar e a pessoa real que somos fora do palco.
Penso que ao discorrer
sobre algo que não experimentamos de fato, estamos na posição de meros
observadores. Um observador nunca terá a mesma possibilidade de análise do que
aquele que de fato vive a realidade observada.
Chego a conclusão de que quem escreveu na verdade nunca
dançou, e sabe muito pouco sobre o que vai dentro da alma ou do corpo de uma bailarina, a não ser o que
ouve ou observa, de sua posição superficial ,
e claramente limitada.
Um observador, será sempre um observador, por mais atento e
frequente que seja o exercício de sua observação.
Discordo totalmente da matéria lida, pois ela caminha no
sentido de que a esmagadora maioria das bailarinas, vive um dilema, egocêntrico
e prazeiroso, onde ela é algo que não é !
Essa ficou engraçada e provavelmente gramaticalmente errada,
mas vou deixar o texto assim mesmo.
Ninguém pode em seu trabalho, seja ele qual for, se despir
de quem é para exercer sua função
Um pequeno mergulho
superficial na área da Psicologia!
A idéia de personagem e pessoa real, é altamente discutível,
a partir do momento em que a ´Psicologia é de fato o campo que estuda estas
particularidades, de forma séria e estruturada.
O complexo jogo que existe dentro da estrutura mental do ser
humano, não pode ser explicado em poucas linhas e nem tampouco subjugado, por
idéias simplistas e tendenciosas
Afinal, um ser, qualquer que seja, vai lutar toda a sua
vida, com os elementos que compõe sua estrutura psicológica, que não são nem de
perto, tão simples, como o exposto no artigo em questão.
Dentro de nosso esqueleto psíquico temos partes integrantes
de um quebra cabeças digno de um matemático maluco :
·
Id
– ou libido – nossa busca pelo prazer, nossos instintos, pulsões, e
impulsos. Sem qualquer contato com a realidade, essa parte de nós não faz
planos, não aceita não como resposta, e evita tudo o que não traz prazer.
Aversão ao que não nos agrada é a tônica. De acordo com os autores é totalmente
insconsciente.
·
Ego
– desenvolvendo-se a partir do Id,
essa parte de nós, busca permitir que nossos impulsos sejam eficientes,
levando-se em conta o mundo externo. Acoplada ao senso de “ principio da
realidade” que introduz a razão, a espera, e então as pulsões, e suas
satisfações tem que aguardar até o momento em que o que nos circunda, em termos
de realidade permita a realização dos desejos com um máximo de prazer e um
mínimo de consequencias negativas.
·
Superego
– é a parte moral da mente humana, e representa nossa relação com a
sociedade representando seus valores e regras e a consequente obediência a
elas.
Claro estas são definições de
acordo com uma linha de pensamento, que é estudada por todos que buscam a
Psicologia, que é a teoria psicanalítica. Começamos por ela e depois nos
deixamos encantar por todas as vastas pesquisas e linhas de abordagem que fazem
parte da área.
A personalidade por sua vez é o
conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de agir,
sentir e pensar de uma pessoa. Na verdade sua individualidade pessoal e social.
De volta ao mundo dos meros
mortais!
Voltando ao texto que diz que uma bailarina tem
diversas personalidades em sua expressão facial, vale dizer que a existência de
fato de personalidades múltiplas seria considerada patológica, então a
bailarina pode ter uma diversidade de expressões ao dançar mas não uma miríade
de personalidades.
A bailarina pode sim representar uma emoção ou
melhor dizendo, comunicar uma emoção ou estado do ser ao se apresentar, mas
geralmente em nossa área não atuamos.
Exceções sejam feitas por exemplo na execução de uma pequena cena em forma de dança onde a comunicação é mais refinada, e construímos de fato um personagem específico para contar nossa estória.
No caso de nossas performances de maneira geral, não há necessidade disso.
A apresentação é uma conversa entre o corpo da bailarina e a música, como a presença de público que acaba oferecendo um estímulo a mais!
Exceções sejam feitas por exemplo na execução de uma pequena cena em forma de dança onde a comunicação é mais refinada, e construímos de fato um personagem específico para contar nossa estória.
No caso de nossas performances de maneira geral, não há necessidade disso.
A apresentação é uma conversa entre o corpo da bailarina e a música, como a presença de público que acaba oferecendo um estímulo a mais!
A dança Oriental, proporciona a possibilidade de
expressão livre, e individual. Posso decidir como conduzir minha apresentação e
como fazer a leitura sensível da música que utilizo, sem representar nada de
fato. Apenas sendo eu mesma, reproduzindo esta peça musical.
Por acaso um dentista em sua função tem que
construir um personagem para atender seu paciente?
Ou ele é o profissional preparado para aquela
função e a desenvolve com maestria, pois foi preparado para isso?
Um cantor por exemplo, se prepara exaustivamente
e ao entrar no palco muda para algo mais que não seja ele mesmo, agora atuante
em sua habilidade escolhida?
Somos os que somos, com nossos desejos
escondidos, aceitos ou não, nossa moral, correta ou não e nossa forma de agir
pensar e sentir.
A mesma Luciana que lava roupa, cuida dos filhos,
e vai ao banco, se prepara para uma aula e dá o máximo de si.
A mesma Lulu que está acabada de cansada, depois
de algumas horas de avião e mais outras de conecção, entra em sala de aula e
faz o que tem que fazer, dando o máximo, pois aquele é seu ambiente
profissional.
A bailarina, também, passa pelo mesmo. Vive suas
atividades cotidianas, e ao entrar no palco vive seu pedaço bailarina.
Não existem duas pessoas, mas sim faces da mesma
pessoa. Todas elas são reais, e não personagens. Em nossa vida desenvolvemos
atividades diversas que exigem de nós, habilidades distintas.
Ao entrar em cena, um grupo destas habilidades é
chamado a se apresentar, e a sua sensibilidade e também claro a sua
personalidade estão ali presentes.
Uma bailarina passional é com certeza uma pessoa
passional.
A mulher que dorme e acorda com seu amor, é a
mesma que vai ao palco , não há distinção.
Distúrbios do Ego, auta estima elevada em demasia
, baixa auto estima e outras coisas mais, são assunto para consultório de
psicologia e não para o palco.
Boa semana a todos
Lulu
Um comentário:
Poxa, se este tipo de coisa viesse de gente de fora do circuito da dança oriental dava pra suportar, pois tá fora, mas vivendo diretamente com este cotidiano e nos chamar de personagem é demais. Isso tá ficando chato...
Sua avaliação é muito bem colocada, não somos uma representação, somos um leque de possibilidades emocionais e trazemos à tona aquela com a qual vamos levar o dia, assim como acontece no trabalho, tô estressada com algo, mas não vou chutar as canelas ao meu redor, cada um tem o seu jeito, e no palco também escolhemos a forma de apresentar um pouco de nós, tudo é emocional, mas até o emocional tem os seus pacotes seja ele o divertido, o româmtico, o mais introspectivo. é um leque e lidamos com ele o dia todo, não só no palco, e isto nada tem a ver com personagem.
E concordo que questões pessoais da personalidade não tem lugar no palco, a psique a gente trabalha no crescimento humano, acertando e errando, fazendo autocritica, debate coletivo ou até mesmo no consultório, mas nada tem a ver com personagem...
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