quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Indignação de uma professora bailarina!


Assim como o girassol, eu busco pela luz, mas as vezes é difícil!

Sempre em movimento, sempre em revolução
Assim é o meio da dança Oriental no Brasil
Começou lá no passado com minha professora, numa época em que cds, youtube e 4 shared, eram apenas fantasia, e como nos velhos tempos, para aprender precisávamos de professora! Bons tempos aqueles

Mesmo que a que eu escolhi sempre tenha sido uma personalidade forte e tempestuosa, nunca me arrependi. Com ela aprendi que ter expressão é uma questão de dentro para fora.
Nunca tive dicas, ou exercícios práticos.
Era simples assim:
Você está fora do ritmo Luciana, de novo!
Mas onde?
De novo!

Devagar fui buscando por um caminho e admiro até hoje, aqueles olhos faiscantes, que nunca me deram nada de mão beijada.

No final ela ganhou minha admiração e meu eterno respeito por ser alguém autêntica. Naquela época não era comum ser sorrisos para obter tudo, dizer que está lindo quando sua mente diz o contrário. Se tem uma coisa que minha professora nunca foi, é comercial e diplomática.
Sempre agia totalmente por seu coração e impulso emocional, e nisso totalmente verdadeira.


Hoje em dia vivemos um ponto onde o fingir é o x da questão.
Se não finjo gostar, sou antipática.
Se me coloco honestamente, taxada de egocêntrica.
Se divido, quero aproveitar de todos.
Se sou clara, não sou agradável.
Onde fica a verdade pessoal nisso tudo?
Não tenho a mínima idéia, mas sim sei o que penso e depois de 46 anos de vida vivida, me dou o direito de falar claramente o que penso, já que isso é uma prerrogativa pessoal e intransferível.

Me recuso a aceitar a análise de um homem, que nunca trabalhou em sua área de formação, falando acerca da vida de uma bailarina, o que claro não pode analisar já que além de ser homem, nunca dançou, como se fosse uma mercadoria de supermercado para o consumidor final.

O ciclo de vida da bailarina, como se houvesse uma forma de mensurar isso.

Antes de mais nada, vale a pena dizer que  infelizmente tanto em nosso país quanto em outros, a louca que decide ser bailarina, tem que ter uma certa dose de amor exagerado e desmensurado por aquilo que escolheu pois todos os apontadores a sua volta, lhe mostram , que esta é uma decisão difícil para quem precisa se sustentar por si mesma.

Depois desta decisão tomada, a questão é ver como será possível manter esta opção como forma de vida, e desde a mais tenra idade, a bailarina, ainda não formada, e nem de longe preparada para ser professora, começa a dar aulas, quando precisa disso para sobreviver.

Portanto a vida da bailarina, que não tem pais que a sustentem nem marido que pague por suas contas, não é possível a não ser que :

  • Outro emprego pague por suas contas
  • Ela tenha alguém que se responsabiliza por ela na estrutura da vida diária ou um mecenas, como existia antigamente!
  • Ela começa a dar aulas muito cedo, muito antes de estar pronta para isso
O que nos leva ao primeiro problema da matéria sobre o ciclo de vida da bailarina.
A bailarina enquanto produto único não existe e por isso não pode ser estudada como qualquer outro produto a ser colocado em linha de produção, passar por estudos de mercado e ser adaptado, qualificado e preparado para ser vendido em grande escala.

Filosoficamente, um produto que pode ser duplicado, também pode ser controlado.
Mas como controlar a vida de uma bailarina???

Outro ponto. Para que possamos estabelecer uma média de comportamento dentro de uma situação dada, precisamos de um estudo com número significativo.
Onde se buscaram os dados reais para afirmar e ratificar o ciclo da vida da bailarina?
Em nosso pais por exemplo quantas pessoas passaram pelo ciclo citado?
Quem depois de 25 anos ainda está no mercado ativa e se mantém? Sendo respeitada como bailarina , como professsora, e como referência, que é o único caminho possível para uma vida profissional duradoura?
Como posso estabelecer um gráfico sem amostragem suficiente?

Que bom se pudéssemos falar do que importa, e não de teorias sem embasamento para conter o que não pode ser contido.

Muito já se tentou para conter a alma dos artistas.
Loucos por natureza, apaixonados sem opção, por aquilo que lhes toma o tempo , a energia e oferece um distinto brilho nos olhos, que aos outros, parece dizer...." Eu vivo algo que você não compreende "

Talvez isso seja o mastro principal da curiosidade alheia. 
Ninguém de fato nos entende, e o que não entendemos causa estranheza.
Ninguém nos controla, e para um controlador , é um belo desafio.

Um brinde a riqueza da dança e a limitação dos pensadores racionais que não se rendem a este Universo, difícil, intrincado e cheio de artimanhas que é o Mundo do Feminino!







24 comentários:

Janahina Borges disse...

Gostei muito do texto. Muito coerente, franco e objetivo, corajoso e autêntic= Lulu
amooo!!!

:)

Unknown disse...

Seu texto caiu como uma tempestade em meio ao deserto do Saara em que eu vivo. Tive a grande honra de dançar por alguns segundo ao seu lado, ver seu brilho, seu carisma, sua humildade em proporcionar a esse mero caminhante uma lição de motivação que levo comigo em todos os cantos.

OBRIGADO !

Cris Borges disse...

Adorei o texto! Estou começando a me profissionalizar agora, mas já danço há muitos anos. Nõa tinha certeza se queria isso ou não. Cada dia que passo vejo como é difícil se colocar como uma profissional séria. Vejo facilitações, favoritismos e padronizações. Tudo isso me incomoda enormemente. Mas já coloquei algo na minha cabeça: se tiver que me render a qualquer uma dessas três coisas para "crescer" no meio, prefiro ficar como estou!

Lulu disse...

Pois é gente, tão bom falar quando existe algo para ser trocado. Não simplesmente críticas ao léu sem sentido ou comprometimento.
Obrigada por quem leu e ainda mais por quem comentou. É bom sentir que existe a chance de trocar coisas e de conversar com algum conteúdo.

Unknown disse...

Falou a voz da experiência. Mais apaixonada que ela não existe. Lulu não só tem muuuuita experiência na dança para compartilhar, como na vida. Uma mulher admirável em todos os sentidos. Amooo!

Anônimo disse...

É Lulu...vivemos numa sociedade hipócrita quando novos somos inexperientes e quando temos experiência (somos velhor) não servimos para nada ! VC É UM ÍCONE, VC É UMA PROFISSIONAL RESPEITA, UMA MESTRA DE CORPO E ALMA. Parabéns pelas suas conquistas e sabedoria!
Grande beijo Gisa Buso.

Anônimo disse...

Como é bom ter profissionais tão dedicados, que não se rendem ao dinheiro (claro que este é muito importante) mas se rende todos os dias ao amor por essa nossa arte. Parabéns Lulu por seu profissionalismo e dedicação pela dança!!!
Loren Quireli

Anônimo disse...

Pura realidade...hoje em dia as professoras só preocupam em sorrir à suas alunas para ñ perder-las...ñ as corrige e ñ tem coragem de dizer q.ñ estao fazendo bem os movimentos...conheço várias e várias assim mas ainda bem q.tem pessoas como você Lulu, q.está por cima de tudo isso e publica o q.pensa...e o q.realmente é!!!! Felicidades!!

Janaina disse...

Então, minha eterna mestra e minha amiga, lembro-me bem de nossas primeiras aulas onde td que eu fazia nunca tava bom, rsrs, e isso era o que me estimulava o tempo todo a buscar mais e mais até conseguir um elogiozinho que fosse.... Ah aí era tão bom, sabia que pra consegui-lo tinha que batalhar e muito e hj, 18 anos conhecendo-a e aprendendo sempre com vc, vejo que o ciclo de uma bailarina nunca está bom, ele é eterno, essa busca por ser boa é eterna, afinal estamos aqui pra aprender e aprender nunca tem fim, só finda no dia que desistimos de buscar e de aprender. E quem tem o direito de julgar a arte???

Suheil disse...

Aho que vou simplesmente ficar de pé, aplaudir e gritar Bravooooooo

Sei exatamente o que motivou este seu texto. Quando eu lí pensei: " será que serei eu a única louca a discordar disso tudo?"

é... que bom que é encontrar em alguém TÃO MEGA especial como você os pensamentos que me perturbaram tb... unidas somos muito mais do que essas pessoas que nunca dançaram e se colocam como Deuses da referência ...

bjs mestra!

Jucilene Morena disse...

ADOREI O TEXTO SOU SUPER APAIXONADA POR DANÇA DO VENTRE E O MEU SONHO É DE UM DIA SER UMA GRANDE BAILARINA,SEI QUE O CAMINHO É BEM LONGO E ESTOU APENAS NO COMECINHO MAIS UM DIA CHEGO LÁ!!!
ADORO LER OS TEXTOS QUE VOCÊ POSTA SEMPRE APRENDO ALGO COM ELES,LHE DESEJO TUDO DE BOM TE ADMIRO MUITO,ESPERO UM DIA CONHECÊ-LA PESSOALMENTE BJS

Anônimo disse...

E quem poderia dizer tais palavras com tamanha propriedade senão vc Lulu? Sua indignação tb é minha. Vivi tds essas dificuldades e ainda vivo. E me entristece ver essa arte virar este comércio desenfreado a qq custo. Somos pessoas, temos uma alma dentro de nós. Robôs e bonecas naum tem!
Dany Marchese

Lulu disse...

Queridos amigos, coloquei a possibilidade de mediar os comentários aqui, pois alguem que nao conheço, visita o blog apenas para incomodar. Podem ter certeza de que tudo vai ser publicado, só omitirei o que for sem nenhum cabimento. Obrigada pela compreensão!

Elen Hanna disse...

Com certeza um invejoso, ou invejosa, com o olho e o traseiro bem grande de tanto ficar bisbilhotando e invejando o sucesso dos outros na web. Deus me livre desse povo covarde! SOS Sindicato dos artistas!!! Ninguém aguenta mais isso!

Elen Hanna disse...

Com certeza um invejoso, ou invejosa, com o olho e o traseiro bem grande de tanto ficar bisbilhotando e invejando o sucesso dos outros na web. Deus me livre desse povo covarde! SOS Sindicato dos artistas!!! Ninguém aguenta mais isso!

Daniela Fernandes Dança do ventre e Tribal disse...

Lulu esse texto foi de encontro a minha alma! Comecei a dar aulas bem antes do que deveria mesmo... por falta de grana e por saber e sentir que havia um caminho a ser percorrido. Hoje estudo e me reciclo muito e sempre terei a humildade de ser aprendiz... Assim como a grande amiga e mestra Yasmin Rajal me ensinou que só se destaca quem tem humildade de reconhecer e concertar seus erros e quem tem identidade!

Mariana disse...

Acredito que a comercialização da dança do ventre acabou por criar esse modelo meio 'barbie', professoras lindas e sorridentes e alunas que as copiam. O desenvolvimento da arte ficou para as apaixonadas quase inconsequentes, que investem tempo e dinheiro além do que seria possível, em nome da evolução artística.
Não sei o que motivou o texto, como a Suheil disse, mas toca em muitos pontos pertinentes. Precisamos refletir sobre as taxações que são feitas para nós e por nós também, e não assumir como verdades absolutas, vamos pensar, discutir, é esse o caminho!
Namatê.

Mariana disse...

Você retratou o que incomoda muitas bailarinas Lulu. Acho que ninguém por aqui tem palavras para expressar o quanto você é importante e um ícone não só para a dança, mas um exemplo para nossas vidas pessoais.
Como os jeitos de pensar são tantos quanto as pessoas, não vejo o porquê de generalizar e inserir em um único texto fases de pessoas que tem em comum apenas a paixão e a carreira de bailarina.
Não gosto de generalizações nem de frases prontas. O que serve para um não necessariamente é uma verdade para o outro!
Parabéns pela postagem. Seu ponto de vista nos enriquece muito.

Renato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paty disse...

Lulu, estava me sentindo tão fora deste mundo, este texto foi brilhante para me abrir os olhos..Amo a dança não pretendo desistir da mesma, apesar do mercado mostrar o tempo todo padrão, favoritismos e facilitações. Obrigada por postar um texto coerente, objetivo e franco de todos os textos já lidos sobre o assunto. Te Adoro Lulu.

Unknown disse...

Brava, Lulu! Obrigada por palavras tão corajosas e pertinentes.

Lulu from Brazil - since 1983 disse...

Gente , não sou santa nem nada, longe de mim. Nesta encarnação meu caminho não é de maneira nenhuma ser perfeita...já errei muitíssimo e já pisei atrás, e me recoloquei de formas diversas.
Quanto mais pudermos falar , sem ofender, discutir com informações reais, mais temos a ganhar.
No final das contas,todas as prisões onde somoms mantidos, em vida, geralmente são criadas por nós mesmos.
Reconheço a existencia das pessoas em minha vida, em suas diversas fases, não tenho necessidade de destruir a imagem de ninguém ou menos ainda apagar.
Mas é interessante poder falar abertamente, sem medo de perder algo.
No fundo, muitas vezes deixamos de nos colocar por medo, mais do que por qualquer outra coisa....
Boa semana a todos.
E nos preparemos para o final do famigerado 2012

Nuriel disse...

Como Suheil tb me senti incomodada já que no momento de acordo com a referida matéria já estaria fora do "prazo de validade" quando ainda me sinto atuante no mercado e tentando fazer a diferença! Bravo Lulu!!

Lulu from Brazil - since 1983 disse...

Nuriel,
Você é um referencial sem dúvida alguma e o tempo de alguém que não pára de estudar é sempre um agregador e não um fator a ser evitado.
Eu olho para o passado e vejo que ele foi primordial para construir o meu presente, e miro no futuro sabendo que sou a única responsável por meu sucesso ou meu fracasso. Felizmente ou infelizmente, não temos como comprar o nosso resultado, ele depende de nós mesmas, dia após dia!