quarta-feira, 4 de abril de 2012

Agora minha vez de dizer, estou bege!




Dei uma entrevista há algum tempo para uma escola em Aracaju
Foi algo informal, onde fui absolutamente honesta com minhas opiniões e observações, sobre a dança, o mercado e o que considero ser a melhor opção para cada uma de nós, de acordo com nossos limites e ambições.

Toquei num ponto que é nervo inflamado, sem chance de anestésico.
Algo que faz parte da realidade de todas as bailarinas que dançam no circuito comercial, o que na minha modesta opinião, não é a melhor opção, mas é a vitrine da qual todas querem participar.

O que seria este ponto nevrálgico? Forma física versus Chances de Sucesso!

Dancei por muitos anos em um estabelecimento comercial, que tinha até uma forma de punição, chamada quarentena, para as bailarinas que saiam muito fora do que o proprietário entendia como sendo o ideal, em termos de corpo feminino para a dança.

Mesmo que os parametros tenham se afrouxado um pouco, segundo o que ouvi dizer, ainda existe a exigência neste sentido. Vivi eu também esta punição, o que quer dizer que lá ninguém escapava, e não era uma regra criada por alguém do corpo de baile, nem mesmo eu!

Os bares seguem o mesmo, buscam por um certo tipo de bailarina, e abdicam de qualidade quando tem que comparar o não tão belo mas muito bom, com o belíssimo e não tão ruim...
Evidentemente , nos lugares, sempre haverão diferenças nos dois quesitos, bailarinas maravilhosas e lindíssimas, e outras não tão lindas mas muito talentosas.

O que não vamos encontrar, é uma pessoa que seja de fato feia, de verdade, mesmo que dance muito bem.
Também não vamos encontrar ninguém que esteja muito fora de seu peso ideal.
Isso é triste? Muito
É  injusto? Com certeza
Mas é mentira? Não!

Eu por exemplo nunca fui linda, e vivi um periodo na casa onde trabalhei por muitos anos, logo no inicio dos anos 90 onde era cercada por beldades para as quais eu perdia de longe....
Isso é ilusão?
GENTE, INFELIZMENTE NÃOOOO

Hoje em dia, se vc depende de contratação externa, prepare-se. Os trajes tem que ser bonitos, o corpo tem que estar em forma, e de preferência, vc tem sim alguma forma de apresentar seu trabalho  ou um canal oficial no Youtube.
Os contratantes pedem isso!!

 Não estou mais no mercado comercial propriamente, construi um outro caminho e meus organizadores, não são donos de bares, restaurantes, cafés, ou casas de chá.
Trabalho no ensino e no compartilhamento, e prefiro isso muito mais, especialmente porque além de não ter sido agraciada com uma beleza esplêndida, também não sou mais uma garotinha.
 Tenho 46 anos, tive muitos filhos e portanto não existe maneira viável de competir com a abundãncia de beleza, juventude e talentos que o Brasil produz todos os dias!!

Nunca fui um bom produto para o mercado comercial, então posso falar de mão cheia sobre isso.

Outra coisa que me recuso a retratar é uma observação que fiz, sobre uma experiência pessoal.
Fui buscar por um treinamento de Pilates, posterior a minha cirurgia de joelho, e fui visitar alguns estudios em Itu, onde moro.

Num deles fui atendida por uma fisioterapeuta, que deveria ter mais ou menos 40 kilos acima do peso que seria ideal para sua estatura, e que tinha claramente problemas de postura.
Evidentemente, não quis me inscrever neste local.
Para mim um treinador físico, tem que manter, ele mesmo um certo padrão qualitativo para seu próprio corpo,
Se não existe essa exigência pessoal, como esta pessoa poderá ser minha inspiração?
Se outras pessoas podem ter aulas com alguém que não lhes inspira, que sigam seu caminho.

Eu não posso, todo professor com quem tive aulas, sempre exerceu sobre mim, uma atração que se baseava nas habilidades específicas daquela pessoa. Algo que eu queria aprender, um tonus que queria ter, uma qualidade de movimentos que me encantava.

Hoje tenho aulas de Pilates com uma instrutora que é mais jovem do que eu, muito delicada em sua estrutura corporal, mas muito integrada e consciente de seus próprios movimentos, o que me dá muita segurança.

Com um mês de aulas 3 x por semana, ela mudou o tônus da minha perna operada, me devolveu força e uma sensação de segurança que não sentia há meses.

Então reitero o que disse na minha entrevista em Aracaju:
Se você é um profissional de dança, deve:
  • estudar para sempre
  • cuidar de seu corpo e mante-lo saudável
  • conhecer um mínimo sobre anatomia que possa lhe ajudar a solucionar pequenos problemas em sala ou mesmo orientar sua aluna em busca de auxílio extra, se for o ideal
  • se quiser fazer parte do esquema -' eu sou sua atração', também terá que aceitar o contrato não dito mas sempre exigido : corpo em ordem , trajes perfeitos, cabelos bem cuidados e abaixo dos 40 anos.
  • Aceitar que o tempo passa, e rápido. Construa sua carreira pensando nas pessoas que virão depois de você e não na possibilidade de que vc sobreviverá a elas. Se hoje tem uma aluna talentosa, no futuro, ela se transforma em parceira de trabalho ou vai ser ,sim, sua concorrente na esquina.
  • Não importa o que faça, nunca vai conseguir agradar a todos, isso é impossível, então vale a máxima:  Eu sei que  posso dormir com a minha cabeça leve quando encosto no meu travesseiro, o resto os outros decidem. Não somos donos da mente do outro, apenas da nossa. 
Boa noite a todos!!!

7 comentários:

Camilla D'Amato disse...

Adoro quando você dá um cala boca no povo ,falar a verdade dói tanto em certas pessoas que incomoda sempre não importa quem fale !!!! Beijoka

Marcos Elias disse...

É verdade, o mercado exige mesmo, é uma pena mas acho que sempre existirá isso! Eu como um simples Fã da arte da dança acho que é muita exigência e não poderia ser tanta assim, acho muito bela e encantadora a Dança do Ventre não importando o tipo físico da bailarina! Desejo sucesso pra todas ^_^

Flávia disse...

A verdade dói, mas ela está aí para ser encarada. Como toda profissão, essa é a exigência da dança. Parabéns pela coragem de expor o assunto.

Melissa Abrantes disse...

Com certeza o seu desabafo é o desabafo de todas. Parabéns pela sinceridade. Amei!!

FicaAdica disse...

Dança é arte e a arte morre quando vira mercadoria, quando entra no jogo do mercado... Por isso tem tanta gente dançando igual, sem alma, sem vontade, sempre igual...

Bety Damballah disse...

Não devemos confundir a matéria do ensino (neste caso a dança do ventre) com o mestre que o ensina .. uma coisa leva a arte a outra é o veículo. Este veículo enquanto pessoa acumula com o passar do tempo experiência e fluidez. B. Damballah

Ana Ferreira Talibah disse...

Parabéns pela sinceridade Lulu, minha Diva Eterna!