Impressões sobre a Sibéria
Minha imaginação não tinha elementos para fixar uma idéia do
que seria esta parte do Mundo. Ligava o nome do lugar, a uma área inóspita, e
perfeita para prisões que não permitissem a fuga, simplesmente porque fora da
prisão os fugitivos morreriam rapidamente.
Era isso o que eu pensava. Frio, deserto e hostil.
Lago Baykal, um dos lugares mais lindos que já vi na vida!
Claro que a realidade é sempre diferente da nossa fantasia,
e dei de cara com uma cidade grande, e muito ativa, apesar de não me parecer
nem um pouco atrativa no primeiro contato.
Os prédios estão por toda parte, pelo menos por onde eu
estive, e é difícil estabelecer diferença entre eles.
Herança do comunismo, e da necessidade de apagar qualquer
resquício que fosse da diferença social entre as pessoas, talvez, o caso é que
pra mim tudo parecia muito linear e cinza...muito cinza.
Neve por toda parte, pois por lá o inverno só termina mesmo
por volta do final de Abril, e quando cheguei a temperatura era de – 10, o que
para as siberianas, é quentinho!!!
Meus lábios racharam imediatamente, sem se importar com o
batom que eu insistia em passar direto. Não tive nenhuma vontade de sair e
explorar a cidade, pois o frio era tanto que depois de 2 minutos na rua, o que
eu queria era voltar para dentro do flat e ficar quietinha...
O flat, tinha uma mistura de cores, que deixaria maluca até
mesmo a mulher mais inusitada em combinações. A cozinha era laranja, choque, as
cortinas do quarto e o teto lilás, e o banheiro azul e branco....fala sério!!
Eu podia fazer meu nescafé a qualquer hora, tinha yogurte e
algumas frutas, então pelo menos de fome eu não morria...
No primeiro dia de jet lag, não fui capaz de fazer nada
No segundo dia, já tinha trabalho , 4 horas de julgamento em
competição e foi uma experiência muito interessante. Diferente das bancas do
Brasil, onde não se discute nada posterior as notas, e a decisão final nunca é
da banca, lá tudo é diferente.
Depois das notas serem somadas, e termos um resultado numérico
final, as pessoas que compõe a banca, juntas discutem o 1º 2º e 3º Lugar, e não
necessariamente as notas é que fazem a diferença. Claro que um 1º lugar
indiscutível não oferece margem a dúvidas, mas até mesmo com isso tivemos
algumas conversas, pois em alguns casos, haviam empates.
É tudo tão transparente e correto, que passa a valer a pena
participar de competições, pois pelo menos, vc tem acesso a tudo, e sabe
exatamente o que determinou a decisão da banca, na final.
Fui procurada por algumas bailarinas, em virtude de meus
apontamentos, e foi maravilhoso ter a chance de dizer o porque desta ou daquela
nota, e depois encontra-las na aula, dispostas e experimentar algumas das
coisas que eu havia proposto.
Claro que tive uma tradutora comigo tempo integral
Nastya ( Anastacia ) foi meu anjo o tempo inteiro, para
comer, para julgar, para dar minha opinião , ela foi minha voz enquanto estive
neste lugar.
Numa das noites , não consegui dormir de jeito nenhum e fui
ligada direto por quase dois dias. Naquela noite descobri diversas bailarinas
russas que ainda não tinha visto e acabei fazendo uma lista de performances que
me impressionaram muitíssimo. Logo a lista vai estar na corrente do bem!
Minha organizadora foi incrível e sua família, é como uma ancora
bem vinda em sua vida. O pai e a mãe, sempre presentes, trabalhando como loucos
para o festival e para a dança.
Na noite do show tivemos um jantar somente as bailarinas
convidadas, e eles, e foram horas inesquecíveis. Um encontro intimista, com boa
comida, e muitas estórias compartilhadas. Para Luana, o momento prévio da
despedida, é sempre um ritual, e cada um presente, tem que dar seu testemunho
ou impressões sobre os últimos dias...bom para encurtar o assunto todos se
emocionaram em sua vez de falar, e não fui a única com lágrimas nos olhos ...
É muito bom poder compartilhar a dança desta maneira, com
pessoas que são tão apaixonadas por isso, que excedem os problemas que costumam
nos assombrar...e transcendem além disso
Obrigada Luana Ptukha, Tatiana, Anna Borisova, Anastacia e
Vilenna Shamarkan. Aquela noite vai ficar para sempre comigo!
Um comentário:
Oi, Lulu, tudo bem?
Você é tão querida!!
Acompanho sua carreira faz muitos anos, sua dança e tudo que fez e faz pela dança do ventre aqui no Brasil, e, como mostra este post,no mundo!
Que bom que vc tem um blog, isso nos aproxima.
Muito interessante este pequeno post sobre sua passagem por um lugar tão loooonge. Que bom que lá é assim... esse modelo de banca devia ser experimentado aqui também.
Fico arrepiada de ver como a dança do ventre movimenta o que há de mais íntimo na mulher, e exatamente por isso é um movimento mundial, vivo e mutante.
Espero um dia dançar como você e as dançarinas que admiro, todas com um "não sei o quê" de maravilhoso.
Um beijo e força!!
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