quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mais uma vez no Japão - sempre um desafio !




 Lulu e Gamal Seif
Nosso primeiro dueto alguns anos atrás

Chegar a este país é sempre uma aventura, não importa que ela tenha começado há oito anos atrás.
Acho que minha primeira vez aqui foi em 2004, e de lá para cá tanto aconteceu.
Um povo extremamente educado, poderia dizer que em nenhum outro lugar há tanta disciplina e tanto respeito pelo professor quanto aqui.

Não estou desmerecendo outros lugares de forma alguma, mas existe algo diferente no Japão. Talvez por estarem tão longe de muitos outros lugares, as pessoas que vivem aqui, sabem apreciar o viajante que vem para dividir.

A docilidade é um ponto chave no temperamento, e a cordialidade uma regra que nunca é quebrada.
Há tantos anos viajo para cá e nunca vi minha organizadora perder a linha, ela diz que fica brava as vezes, mas então isso é tão delicado comparado com o que conheço, que não chego nem a notar.

Estamos remontando a Princesa e o Plebeu com elenco japonês. É um grupo de oito pessoas que inclui Hiromi , minha organizadora e suas alunas avançadas.


 Impressionante como a concentração delas não se perde por nada, e o que conseguiram com alguns encontros pontuais com Gamal Seif. 

Para quem pensa que no Japão não tem dança Oriental, eu digo, elas estão crescendo, de forma gradativa e sólida, e me sinto muito honrada por ter feito parte deste caminho, e poder dividir o palco com pessoas que conheço desde a primeira vez em que visitei o país.

Meus parabéns vão para Huleya, e seu esforço incansável para construir o que ela descobriu ser um caminho apropriado para nossa dança aqui. A ela devo meu respeito e admiração, pois começou do zero e está revolucionando o meio. Seus passos são certeiros e apurados. Ela vai com cuidado e perserverança e agora o que tem é um show totalmente preparado no decorrer de um ano, mostrando um caleidoscópio de cenas orientais, que será fechado com esta dança teatro.


Domu Arigato!
Não sei como se escreve mas quer dizer, muito muito obrigada!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Agora minha vez de dizer, estou bege!




Dei uma entrevista há algum tempo para uma escola em Aracaju
Foi algo informal, onde fui absolutamente honesta com minhas opiniões e observações, sobre a dança, o mercado e o que considero ser a melhor opção para cada uma de nós, de acordo com nossos limites e ambições.

Toquei num ponto que é nervo inflamado, sem chance de anestésico.
Algo que faz parte da realidade de todas as bailarinas que dançam no circuito comercial, o que na minha modesta opinião, não é a melhor opção, mas é a vitrine da qual todas querem participar.

O que seria este ponto nevrálgico? Forma física versus Chances de Sucesso!

Dancei por muitos anos em um estabelecimento comercial, que tinha até uma forma de punição, chamada quarentena, para as bailarinas que saiam muito fora do que o proprietário entendia como sendo o ideal, em termos de corpo feminino para a dança.

Mesmo que os parametros tenham se afrouxado um pouco, segundo o que ouvi dizer, ainda existe a exigência neste sentido. Vivi eu também esta punição, o que quer dizer que lá ninguém escapava, e não era uma regra criada por alguém do corpo de baile, nem mesmo eu!

Os bares seguem o mesmo, buscam por um certo tipo de bailarina, e abdicam de qualidade quando tem que comparar o não tão belo mas muito bom, com o belíssimo e não tão ruim...
Evidentemente , nos lugares, sempre haverão diferenças nos dois quesitos, bailarinas maravilhosas e lindíssimas, e outras não tão lindas mas muito talentosas.

O que não vamos encontrar, é uma pessoa que seja de fato feia, de verdade, mesmo que dance muito bem.
Também não vamos encontrar ninguém que esteja muito fora de seu peso ideal.
Isso é triste? Muito
É  injusto? Com certeza
Mas é mentira? Não!

Eu por exemplo nunca fui linda, e vivi um periodo na casa onde trabalhei por muitos anos, logo no inicio dos anos 90 onde era cercada por beldades para as quais eu perdia de longe....
Isso é ilusão?
GENTE, INFELIZMENTE NÃOOOO

Hoje em dia, se vc depende de contratação externa, prepare-se. Os trajes tem que ser bonitos, o corpo tem que estar em forma, e de preferência, vc tem sim alguma forma de apresentar seu trabalho  ou um canal oficial no Youtube.
Os contratantes pedem isso!!

 Não estou mais no mercado comercial propriamente, construi um outro caminho e meus organizadores, não são donos de bares, restaurantes, cafés, ou casas de chá.
Trabalho no ensino e no compartilhamento, e prefiro isso muito mais, especialmente porque além de não ter sido agraciada com uma beleza esplêndida, também não sou mais uma garotinha.
 Tenho 46 anos, tive muitos filhos e portanto não existe maneira viável de competir com a abundãncia de beleza, juventude e talentos que o Brasil produz todos os dias!!

Nunca fui um bom produto para o mercado comercial, então posso falar de mão cheia sobre isso.

Outra coisa que me recuso a retratar é uma observação que fiz, sobre uma experiência pessoal.
Fui buscar por um treinamento de Pilates, posterior a minha cirurgia de joelho, e fui visitar alguns estudios em Itu, onde moro.

Num deles fui atendida por uma fisioterapeuta, que deveria ter mais ou menos 40 kilos acima do peso que seria ideal para sua estatura, e que tinha claramente problemas de postura.
Evidentemente, não quis me inscrever neste local.
Para mim um treinador físico, tem que manter, ele mesmo um certo padrão qualitativo para seu próprio corpo,
Se não existe essa exigência pessoal, como esta pessoa poderá ser minha inspiração?
Se outras pessoas podem ter aulas com alguém que não lhes inspira, que sigam seu caminho.

Eu não posso, todo professor com quem tive aulas, sempre exerceu sobre mim, uma atração que se baseava nas habilidades específicas daquela pessoa. Algo que eu queria aprender, um tonus que queria ter, uma qualidade de movimentos que me encantava.

Hoje tenho aulas de Pilates com uma instrutora que é mais jovem do que eu, muito delicada em sua estrutura corporal, mas muito integrada e consciente de seus próprios movimentos, o que me dá muita segurança.

Com um mês de aulas 3 x por semana, ela mudou o tônus da minha perna operada, me devolveu força e uma sensação de segurança que não sentia há meses.

Então reitero o que disse na minha entrevista em Aracaju:
Se você é um profissional de dança, deve:
  • estudar para sempre
  • cuidar de seu corpo e mante-lo saudável
  • conhecer um mínimo sobre anatomia que possa lhe ajudar a solucionar pequenos problemas em sala ou mesmo orientar sua aluna em busca de auxílio extra, se for o ideal
  • se quiser fazer parte do esquema -' eu sou sua atração', também terá que aceitar o contrato não dito mas sempre exigido : corpo em ordem , trajes perfeitos, cabelos bem cuidados e abaixo dos 40 anos.
  • Aceitar que o tempo passa, e rápido. Construa sua carreira pensando nas pessoas que virão depois de você e não na possibilidade de que vc sobreviverá a elas. Se hoje tem uma aluna talentosa, no futuro, ela se transforma em parceira de trabalho ou vai ser ,sim, sua concorrente na esquina.
  • Não importa o que faça, nunca vai conseguir agradar a todos, isso é impossível, então vale a máxima:  Eu sei que  posso dormir com a minha cabeça leve quando encosto no meu travesseiro, o resto os outros decidem. Não somos donos da mente do outro, apenas da nossa. 
Boa noite a todos!!!